Carlos Drummond de Andrade – LIRA ITABIRANA

Carlos Drummond de Andrade ergueu sua voz contra os desmandos da Vale. Anunciou a ruína em alto e bom som, sirene poética/profética pedindo socorro que não sensibilizou os donos da grana, os senhores da lama. Deu no que deu: sete rompimentos de barragem de rejeitos catalogados espalhando desgraça pra todo lado. Segue colagem de poemas de Drummond sobre o tema.
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Chego à sacada e vejo a minha serra,
a serra de meu pai e meu avô,
de todos os Andrades que passaram
e passarão, a serra que não passa.
(...)
Esta manhã acordo e não a encontro,
britada em bilhões de lascas,
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões,
no trem-monstro de cinco locomotivas

  • trem maior do mundo, tomem nota -
    foge minha serra, vai
    deixando no meu corpo a paisagem
    mísero pó de ferro, e este não passa.

O maior trem do mundo
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra
Para o Canadá
Leva minha terra
Para o Japão
O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel
Engatadas geminadas desembestadas
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo
Transporta a coisa mínima do mundo
Meu coração itabirano
Lá vai o trem maior do mundo
Vai serpenteando, vai sumindo
E um dia, eu sei não voltará
Pois nem terra nem coração existem mais.

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    Field Recording / Sound Art
    • 93 bpm
    • Key: Gbm
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