Carlos Drummond de Andrade - I N T I M A Ç Ã O

Estamos na 25ª hora, quer dizer, podemos cair no abismo do fascismo ou salvar a nossa frágil democracia, as urnas vão decidir. Quem indicou este texto, que traduz a angústia desta hora, foi o mestre e amigo Antônio Sérgio Bueno, a quem dedico este programa. Segue poema do sempre lúcido e oportuno Carlos Drummond de Andrade.

Carlos Drummond de Andrade - I N T I M A Ç Ã O

Abre em nome da lei.
Em nome de que lei?
Acaso lei sem nome?
Em nome de que nome
cujo agora me some
se em sonho o soletrei?
Abre em nome do rei.

Em nome de que rei
é a porta arrombada
para entrar o aguazil
que na destra um papel
sinistramente branco
traz, e ao ombro o fuzil?

Abre em nome de til.
Abre em nome de abrir,
em nome de poderes
cujo vago pseudônimo
não é de conferir:
cifra oblíqua na bula
ou dobra na cogula
de inexistente frei.

Abre em nome da lei.
Abre sem nome e lei.
Abre mesmo sem rei.
Abre sozinho ou grei.
Não, não abras; à força
de intimar-te, repara:
eu já te desventrei.

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    • 130 bpm
    • Key: Gm
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