MARCELO DOLABELA - PRESUNTOS

O poeta MARCELO DOLABELA não tripudiava, fazia. Dono de vasta cultura, não arrotava erudição, desempenhava o seu papel de artista e professor de forma despojada e tranqüila. Você partiu Marcelo, nos deixando nessa roubada que é enfrentar esse Brasil careta, pentecostal, absurdo. Ouço sua gargalhada de anjo torto debochando de nós que ficamos. Segue o poema PRESUNTOS de MARCELO DOLABELA, de rara e extrema atualidade.

MARCELO DOLABELA - PRESUNTOS
Sim, há bueiros sobre nossas cabeças
e cães ladram vadios no nosso intestino;
cometemos todo crime, somos heróis:
eis o que nos ensina a lei e o destino.

Aprendemos a matar desde menino,
no café da manhã, cortando o presunto:
seguimos, à tarde, seremos bons heróis,
que sabem saborear um bom defunto.

Saibamos manejar cifras, colt, palavras,
como um bom cidadão, sensato assassino;
assim, teremos bueiros sobre a cabeça
e vadios cães no nosso verde intestino.

Um bom herói se faz desde bem menino,
conhecendo suas leis e seu assunto,
passeando sobre a cidade, bom herói,
recebendo uma medalha por um defunto.

(Radicais, 1985)

Translate this for me

    Field Recording / Sound Art
    • 93 bpm
    • Key: D
    • Belo Horizonte, Brazil
    Full Link
    Short Link (X/Twitter)
    Download Video Preview for sharing